terça-feira, 22 de setembro de 2009

A arma do indio


A aldeia do índio Kumumy foi atacada por animais bípedes e brancos, estavam a procura de ouro. Ele caminhava arfando pela densa floresta amazônica, ainda ferido.
Com seus cabelos vermelhos de urucum e corpo negro de jenipapo, estava pintado para a guerra. O suor lavava o tom vermelho da cabeça, e camuflando-se escorria ao sangue do ferimento; fora atingido de soslaio por alguns tiros de garrucha.
Por suas mulheres e Kurumins manetas, ele queria a vingança, vingança por suas próprias mãos.
Avistou um dos animais assassinos matando a sede na beira de um rio.
Então, puxou a sua potente arma biológica, um pequeno dardo envenenado. Depois, empunhou sua zarabatana calibre 38 e os aproximou do gatilho de seus lábios: bastou um único disparo.

(Rodolfo Vieira)

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Náuseas


Náuseas do choro, apelos do sofrimento.
Ânsias de vômito, lágrimas bucais: saliva?
Choro dos lábios (que ja falta aos olhos), transferência de sentidos?
o que se sofre primeiro, o corpo já sem fluidos para o sofrer?
ou a alma já sem razão a doer?
Como náuseas do baldio, o choro vem e vai: o balanço dos sentimentos.
Que não se massageie o meu ventre!

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Clarice


Na madrugada, ela senta em seu sofá de sala. Uns papeis a rodeiam, anotações de pensamentos ligeiros. Aprisionados nas palavras anacrônicas.
Acendeu seu cigarro e consumia as partículas da chama, inspiro bucal, e consumida pela ascendência (de si) expirava seus sofrimentos ao repórter.
Franzia o cenho como se tentasse refinar cada resposta do interlocutor. Os cantos de sua boca se arqueavam, como se reprovassem previamente cada pergunta. Não gostava de dar entrevistas.
Apoiava seu rosto junto à mão a qual empunha o canudo de cigarro. Parecia se sentir forte e resistente contra a fumaça - talvez seja esta a terapia dos fumantes, a resistência paradoxal. Cliquei no Pause, fiquei a esboçá-la.
- Na sua opinião qual o papel do escritor hoje em dia? - permiti, após a interrupção o desfecho da entrevista.
- O de falar o menos possível - a escritora parecia se sentir ferida por ser acusada como hermética pela crítica.
Esta foi a pergunta final da entrevista a qual se finda com um poema de sua autoria, citado por Maria Bethânia: "A minha verdade espantada é que eu sempre estive só de ti, e não sabia. Eu agora sei, eu sou só. Eu e minha liberdade que não sei usar. Mas, eu assumo a minha solidão, sou só e tenho que viver uma certa glória íntima e silenciosa. Guardo seu nome em segredo. Preciso de segredos...para viver" (C.L.)

Suspirei...






*Ao esboçar seus traços, me atrevi, enquanto ela dava tal entrevista . São esboços antigos, vindos de sua face paralisada ao monitor.

domingo, 15 de fevereiro de 2009


Fugaz

Não me concedo a percepção injusta da fugacidade disto: das pessoas que conheço hoje e que amanhã, evidentemente, as desconhecerei por um desatino qualquer;
Não quero denunciar-me, nem converncer-me, o quanto me irrita o fato de as pessoas irem e virem em nossas vidas.